O ano de 1929 marcaria indelevelmente a história do século XX, consequência duma quinta-feira negra em Nova Iorque e seria também, por diferente razão, um ano decisivo para a própria historiografia. Numa universidade em Estrasburgo, Lucien Febvre e Marc Bloch fundavam a revista Annales d'Histoire Economique et Sociale, corporizando uma mudança de paradigma na visão, então positivista, da história, resumida que era a mero reportório ou crónica de acontecimentos marcantes de natureza política e militar, onde só os grandes feitos e heróis tinham lugar, ignorando-se inúmeras fontes e a história do homem comum.
Para François
Dosse, a incorretamente denominada escola, de Annales, seria antes um movimento
de intelectuais e historiadores opositores da história breve e factual dos
metódicos, contrapondo com a história longa e total centrada no homem e nas suas
relações com o meio. O embate prolongar-se-ia até 1945, sem que dele brotasse um
modelo teórico alternativo ao metódico, o que talvez não fosse de estranhar
pois o espírito dos Annales era aberto à mudança e à inovação, logo, contrário
a pensamentos uniformes, ao estabelecimento de regras e modelos dogmáticos. Febvre
e Bloch não eram, inclusive, unânimes: o primeiro, defensor do recurso aos
métodos autónomos, de outras disciplinas para o estudo das atividades e
criações do homem, o outro, centrando o estudo histórico mais no homem e na sua
interação com o tempo, com recurso a métodos próprios.
Depois da morte de
Bloch às mãos do regime nazi e com o fim da segunda guerra mundial, surge
aquela que é considerada a segunda geração dos Annales, os descendentes de um
movimento dominado agora pelo pensamento de Fernand Braudel que enfatiza os
aspetos socioeconómicos e os conceitos de estrutura e conjuntura.
A terceira geração
surgirá a partir de 1968, destacando-se os nomes de Jacques Le Goff e Pierre
Nora que dão continuidade à discussão teórica encetada pela anterior geração e redescobrem
a história narrativa e política, expandindo o diálogo multidisciplinar. É a Nova
História que, voltando a Dosse, ter-se-ia afastado da perspetiva globalizante
dos “pais fundadores”, do estudo dos fenómenos de longa duração, da dialética
entre passado, presente e futuro. Temos antes uma fragmentação da história em
múltiplas micro-histórias autónomas, tendo as mentalidades como objeto principal
de estudo e sendo ainda definidos métodos que parecem resgatar algumas das boas
intenções da escola metódica.
Bibliografia
MATOS, Júlia
Silveira – Tendências e Debates: Da Escola dos Annales à História Nova -
Historiæ, Rio Grande, 1 (1): 113-130, 2010 – disponível na área de e-learning
da UAB.
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