A floresta é, a par com os oceanos, um importante sistema purificador terrestre, desempenhando um papel fundamental no equilíbrio químico da atmosfera, pela capacidade que possui de absorver e reter carbono, um dos constituintes do dióxido de carbono (CO2), gás de efeito de estufa gerado pela respiração e decomposição de todos os seres e organismos vivos e por inúmeras atividades humanas ou fenómenos naturais, como as erupções vulcânicas. As atividades humanas constituem mesmo a principal causa do aumento da concentração de CO2 na atmosfera, que se estima ter tido um incremento de 25% desde o início da era industrial, sendo o uso generalizado de combustíveis fósseis uma das causas principais para este aumento, a que se juntam outras causas diretamente provocadas pelo homem, como as mudanças no uso dos solos ou a criação intensiva de gado[1] a um ritmo galopante que acompanha, também um aumento exponencial da população mundial[2] verificada desde o início do século XX.
Os
gases de efeito de estufa são benéficos para o planeta, impedindo ou
dificultando que escapem para o espaço as radiações de grande comprimento de
onda, criando assim condições para a manutenção da temperatura da Terra dentro
de limites que permitem a vida. Este é um fenómeno natural sem o qual se estima
que a temperatura média do planeta, que ronda os 15o C, seria de -19o
C, um valor que, por força do desenvolvimento tecnológico, provavelmente não
impossibilitaria a existência futura da vida humana, mas seguramente a tornaria
residual, tornando igualmente impossível a vida para a grande maioria das
restantes espécies.
Contudo,
por força quer dos incêndios, quer do ritmo acelerado da desflorestação
deliberada com fins comerciais ou industriais, com a redução da área florestal
fica limitada a função de sequestro do carbono, comprometendo assim a sua
capacidade reguladora da quantidade de CO2 libertado para a
atmosfera. O excesso deste gás provoca um consequente aumento nos níveis de
retenção das acima mencionadas radiações infravermelhas e, logo, ocorrendo um aumento
da temperatura terrestre. Este aquecimento, além de ter inúmeras repercussões
sobre os ecossistemas e potencializar alterações e fenómenos climatéricos
extremos, provoca o derretimento das calotes polares e dos gelos presentes nas
altas montanhas, sendo canalizado para os oceanos um tal fluxo de água que
provoca a sua expansão térmica e um aumento do nível do mar[3].
Em
Portugal os efeitos da erosão marinha, resultante do aumento do nível do mar
(também pelo défice de sedimentos trazidos pelos cursos de água) fazem-se
sentir principalmente nas áreas litorais arenosas existindo projeções que
apontam para o desaparecimento de várias áreas costeiras, algumas urbanizadas,
que ficarão submersas pelo Atlântico[4]. Outros fenómenos como a
contaminação dos aquíferos com água salgada ou a salinização dos solos, que
atualmente em Portugal não se podem considerar (ainda) problemáticos, poderão
comprometer o abastecimento de água potável tornando-a imprópria para rega e
tornar estéreis os campos agrícolas junto às zonas litorais.
A
importância das florestas estende-se também à conservação da biodiversidade,
criando condições climáticas e ambientais específicas, favoráveis á existência
de diversos tipos de fauna e flora. Também os solos beneficiam da proteção da
floresta contra a erosão provocada pelas chuvas, nomeadamente ao nível dos
declives, ajudando as raízes das árvores a fixação e imobilidade dos solos,
contribuindo ainda para a integridade dos sistemas fluviais. Do ponto de vista
económico a floresta é também uma importante fonte de matérias primas
utilizadas pela indústria.
Em
Portugal o pinhal bravo, eucaliptal e o montado de sobro correspondem a cerca
de 85% de uma floresta recente[5] e muito marcada pela
intervenção humana[6], ocupando entre 36% a
39%[7] do território nacional.
A sua capacidade de sequestro de carbono é considerada bastante elevada. No
entanto a desflorestação provocada pelos fogos[8], o aparecimento de novas
doenças e pragas das árvores, o corte precoce juntamente com a eventual redução
de processos de reflorestação por não serem financeiramente rentáveis em detrimento,
por exemplo, da ocupação dos solos em larga escala com painéis de captação de
energia solar, poderão reduzir significativamente a capacidade de sequestro de
carbono da floresta nacional.
Não
obstante ter sido historicamente determinante na expansão demográfica e ser atualmente
essencial para satisfazer as necessidades de alimentação das populações, a
perda de superfície florestal para os terrenos agrícolas pode a longo prazo
revelar-se desastrosa e impulsionar processos de expansão de terrenos incultos
e de desertificação como acontece no Alentejo onde em solos já de si pouco
férteis, praticam-se culturas intensivas e de crescimento e colheita rápida,
tornando-os gradualmente ainda mais inférteis até um ponto de se tornarem
economicamente inviáveis.
As
motivações que atualmente predominam relativamente à gestão da floresta
revestem-se de um carácter muito mais economicista que propriamente ecológico,
estando condicionadas à procura de bens e serviços daquela provenientes, sendo
significativo que cerca de 85% da área florestal esteja na posse de
particulares, portanto muito mais focados para a rentabilização e para o lucro,
permeáveis a projetos de curto prazo mais distantes de uma consciência social e
ecológica.
As
alterações no equilíbrio químico da atmosfera têm um alcance e impacto global
em todo o planeta sendo suscetíveis de exacerbarem conflitos entre países, originar
migrações de populações humanas e animais ou desaparecimento de espécies,
colocando pressão sobre os ecossistemas verificando-se um continuo recuo da
área florestal pese embora a um ritmo, felizmente, mais lento[9] na última década face às
décadas anteriores.
Bibliografia
Diversos
textos disponibilizados na área de e-learning da disciplina de Geografia Física
e Ambiente.
KULP,
S.A., Strauss, B.H. New elevation data triple estimates of global
vulnerability to sea-level rise and coastal flooding. Nat Commun 10, 4844
(2019) – Disponível online em https://doi.org/10.1038/s41467-019-12808-z
PEREIRA, João
Santos Pereira; CORREIA, Alexandra; CORREIA, Alexandre; BORGES, José G.;
PEREIRA, João – A Floresta - Disponível online em
https://www.researchgate.net/publication/240614136
[1] O metano expelido
por estes animais é também um gás de efeito de estufa.
[2] A população
mundial de seres humanos ascende atualmente a 7,8 biliões, prevendo-se que
atinja os 9,7 em 2050. No princípio do século XX a população mundial fixava-se
(apenas) nos 1,6 biliões.
(https://www.worldometers.info/world-population/#pastfuture).
[3] Durante o século
XX o aumento registado no nível do mar cifrou-se entre os 11-16cm, estimando-se
que no final do presente século registe um aumento de cerca de meio metro.
[4] Estima-se que o
aumento previsto de 30 centímetros no nível do mar até 2050 irá afetar mais de
100 mil portugueses. Fonte: Estudo coordenado por Carlos Antunes, professor de
Engenharia Geoespacial da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa
(FCUL).
[5] Em 1870 a área
florestal ocupava entre 4% a 7% do território nacional.
[6] As florestas
originais praticamente inexistem na Europa, representando em Portugal apenas
0,76% do total da área florestal.
[7] Valor varia de
acordo com os indicadores metodologia de análise. Fonte: Carta de Uso e
Ocupação do Solo de Portugal Continental 2018 (COS2018), Direção-Geral do
Território e Relatório Completo do 6.º Inventário Florestal Nacional (2019)
ICNF, in https://florestas.pt/
[8] O ano de 2003 foi
o pior de sempre em área ardida, tendo atingido 8,5% da superfície arborizada.
[9] A redução média
anual cifrou-se em 7,8 milhões de hectares durante a década de 1990, 5,2
milhões na primeira década do século XXI e 4,7 milhões anuais entre a partir de
2010. Fonte: https://florestas.pt/
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